quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Resistir é preciso

Resistir é preciso


Rui Nogueira

Vamos aprender a boicotar as grandes empresas transnacionais ou estaremos fadados a um grande período de escravidão, mergulhados num sórdido mercantilismo colonial e monetário.

O autor participava de recente Bienal do livro em São Paulo, com estande nacionalista, presente a bandeira do Brasil tendo em baixo, em letras bem visíveis, a frase: “Resistir é preciso.”

Era um ponto animado com muitos jovens circulando e alguns, ao observarem o destaque para o nosso verde e amarelo, perguntaram: “Quero estudar o Brasil. O que devo ler?”

Lembrei-me de Nelson Werneck Sodré, com seu livro “O que se deve ler para conhecer o Brasil”. Passei os olhos pelo ambiente da Bienal e pude constatar em meio aos milhares de títulos expostos em gigantescas instalações de grandes editoras, algumas dominadas por grupos estrangeiros, ser muito pobre a existência de títulos voltados para a cultura e o interesse nacional.

Em dado instante, observei um senhor de meia-idade, parado em frente, perscrutando cada detalhe do local. Após alguns minutos aproximou-se e disse:

- Tomara que vocês consigam!

- Por que diz isto? – perguntei.

- Porque eu não sou brasileiro, apenas moro e trabalho aqui, e na minha terra não conseguimos resistir. Lá, fizeram tudo o que está acontecendo aqui, inclusive com o apagão. Quando abrimos os olhos não tínhamos mais nada, tudo estava nas mãos de empresas estrangeiras. As transnacionais engoliram tudo.

Ele explicou que é indonésio, e depois encontrei informes de que lá foi o lugar usado como balão de ensaio para implantação da globalização no mundo.

Aquele desconhecido abriu minhas preocupações.

O apagão foi visível e até divulgado, mas a ocupação, o domínio das nossas empresas é disfarçado e permitem que uma empresa seja considerada brasileira apenas pelo fato de possuir um escritório no nosso país. Várias continuam com o mesmo nome mas dominadas pelos interesses estrangeiros e até fazem propaganda enganosa de serem brasileiras apesar de inteiramente controladas pelo exterior.

Precisaria de muito espaço para enumerar e denunciar a ocupação silenciosa de boa parte dos setores econômicos brasileiros.

Tudo que se move se transforma é energia.

O nosso sistema de produção de energia elétrica é o mais barato do mundo, utilizando hidroelétricas em todo território nacional interligada por redes de transmissão e planejadas para continuar funcionando mesmo com 5 anos sem chuvas. Bloqueando investimentos nas estatais, proibindo financiamentos do BNDES e segurando aumento de tarifas em época de inflação, além de aproveitar a formidável saúde econômica das estatais de energia para obter financiamentos externos usados para os pagamentos de juros da dívida, sem nenhuma aplicação no setor, o sistema foi fragilizado e permitiu, com a assessoria de consultoria estrangeira (inglesa), a privatização do sistema.

Observem a ocupação. As empresas elétricas distribuidoras estatais foram privatizadas a preços irrisórios. Seguem alguns exemplos: Gerasul oriunda da Eletrosul, federal, comprada pela Tractebel ramo de energia da empresa do cartel das águas Suez. Tietê oriunda da Cesp, estadual de São Paulo para a AES, Gerasul. Coelse, Ceará, com vendas intermediárias hoje na mão da Ampla dita espanhola, mas controlada por grandes grupos financeiros.

O trabalho de 50 anos do povo brasileiro a partir da campanha do “Petróleo é nosso”, com a Petrobrás estatal mantendo o país abastecido e desenvolvendo tecnologia pioneira de pesquisa em grandes profundidades está passando para as mãos do cartel internacional do Petróleo (só 32% das ações estão na mão do governo). A Petrobrás descobre bacias de petróleo e o investimento e trabalho dos brasileiros é transferido para estrangeiros terem lucros abusivos em absurdos leilões da ANP em que ela própria ,às vezes, é excluída. Resistir é preciso!

A maior empresa de mineração estatal, desenvolvida com muito trabalho e sacrifício dos brasileiros é transferida por valores insignificantes numa privatização muito questionada inclusive juridicamente. Agora tenta mudar de nome dando a impressão de que é uma empresa brasileira. Estão engolindo tudo. Qual o motivo de mudar a denominação? Fugir da crescente pressão pela re-estatização?

O nosso sistema de comunicações é objeto de sucessivas negociações envolvendo muito dinheiro, concentrando em mãos estranhas todo o sistema. Não precisa ser nenhum estudioso para constatar a absurda exploração de que somos vítimas. Tarifas enormes e serviços virtuais precários. Temos que “gemer” para pagar as contas que sustentam acionistas distantes. Qual a vantagem?

Comprem óleo de soja sem ser da Bunge ou da Cargyll, estrangeiras. É difícil. Mesmo as embalagens que estão com rótulos de grande supermercado são produzidos pelas duas empresas. Com a palavra o CADE

Até clube de futebol tem sido ocupado por transnacionais. Alguns andaram levando um castigo e foram rebaixados! Seria no dizer popular “um castigo de Deus” ?

A seleção brasileira está dominada por uma grande transnacional (Nike). Explorando a paixão brasileira pelo futebol.

Todas estas empresas não querem o nosso bem, querem os nossos bens. Começar a resistir seria só usar camisas verde e amarela, sem emblema de transnacional.

Resistir é preciso.

Vamos aprender a boicotar as grandes empresas transnacionais ou estaremos fadados a um grande período de escravidão, mergulhados num sórdido mercantilismo colonial e monetário.

Rui Nogueira

Médico Escritor pesquisador

Correio Eletrônico – rui.sol@ambr.com.br

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