sábado, 9 de fevereiro de 2008

Rezem Por Mim

Rezem Por Mim. por Adriles Ulhoa Filho

Um passeio com Maiakovisky


Na primeira noite

eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,

já não se escondem :
pisam as flores,

matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,

o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a lua, e,
conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

Como Maiakovisky


Primeiro, mataram índios indolentes - primitivos donos das terras - por recusarem colaborar.

Depois, levaram o ouro de aluvião que brilhava no leito do córrego.

Eu nada pude fazer, pois nem sonhava nascer.

Mais tarde, trouxeram escravos para escarafunchar o morro.

Nada fiz mais uma vez, esperava a hora de ser.

Por certo tempo – eu já aqui - não mexeram em quase nada.

Não por algum respeito! Talvez uma trégua; um rearranjo da ambição.

Mas a aldeia calma não podia continuar sendo um Shangri-lá.

Começaram a falar em progresso.

A primeira providência foi destruir o teatro.

Então eu fui embora. Fui aprender a entender.

E continuou o progresso destruindo: casas, sobrados e ruas.

Arrancando pedras e mutilando becos.

Pondo o moderno no lugar.

Eu inerte como um coió!

Certo dia, achei demais! Basta, basta! Bati de frente.

Falei, escrevi e gritei! Gritei para o Mundo escutar:

Será que até nosso morro vão agora nos levar?

Só restará um buraco pra nossa tristeza enterrar?

Para esconder nossa inércia e a vergonha do nosso silêncio?

Avante, paracatuenses! Avante, precisamos agir.

Antes que acabe o morro

e fique só o

Rezem Por Mim.

Adriles Ulhoa Filho

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