terça-feira, 9 de outubro de 2012

A despedida das tetas


A despedida das tetas

Por Sergio Ulhoa Dani, de Heidelberg, Alemanha, em 08 de outubro de 2012.

Olavo Remígio Condé é um homem que se construiu no trabalho e na iniciativa privada, um "self-made-man". Por isso a sua eleição para prefeito da cidade de Paracatu tem um significado especial: ela representa a despedida do poder de uma classe de políticos criados na mamata em teta.

O vício da mamata em teta é antigo em Paracatu, ele começou na época da colônia, quando a metrópole portuguesa investiu de poderes uma leva de intendentes, fiscais e polícias para garantir o seu quinhão do ouro que era extraído pelo povo dos córregos da região. Esses intendentes não produziam nada, eles apenas “sugavam” o que era produzido pelos garimpeiros, eles “mamavam” nas tetas do povo.

Quando o ouro de aluvião deixou de ser um negócio rendoso, os intendentes de todos os tempos acostumados à mamata se constituiram em presidentes ou gerentes da Cooperativa Agropecuária de Paracatu (a COOPERVAP) para explorar os produtores rurais do “ouro branco”, o leite das vaquinhas. À medida que esta teta foi secando, descobriram outras tetas locais, regionais, estaduais, federais e até internacionais: a Câmara Municipal (inventaram o salário do vereador), a Prefeitura Municipal (criaram a tradição de um “mamão” despedido da COOPERVAP abocanhar um tempo de mamata nas tetas da Prefeitura), o Banco do Brasil e a Fundação Banco do Brasil (a dupla das tetas), a Assembléia Legislativa de Minas Gerais (curral dos "mamões"), a companhia agrícola de capital binacional (teta dupla), e finalmente as tetas genocidas das mineradoras.

Os mamadores ou “mamões” se alternavam de teta em teta, uma técnica sofisticada que o bezerro sem mãe domina tão bem, desde que ajudado pelo vaqueiro. A técnica é essa, para bezerro "mamão" mamar tranquilo em teta alheia, é preciso que o vaqueiro peie e lace a vaca, porque só vaca besta deixa bezerro enjeitado mamar sem peia e laço.

A eleição de um "self-made-man" representa uma ruptura nesse velho esquema das tetas. Pelo menos no que diz respeito à política, o povo de Paracatu não aceita mais peia e laço.

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